Você sabe como se calcula o IDEB?*

Segundo o INEP:
O Ideb é um indicador de qualidade educacional que combina informações de desempenho em exames padronizados (Prova Brasil ou Saeb) – obtido pelos estudantes ao final das etapas de ensino (4ª e 8ª séries do ensino fundamental e 3ª série do ensino médio) – com informações sobre rendimento escolar (aprovação).

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Há quem esteja excessivamente orgulhoso dos avanços nos índices do IDEB 2007. Eu não Estou. Confesso que vejo tudo com alguma desconfiança. Não no índice, com o qual até concordo, mas com a maquiagem que alguns Estados, Municípios e Escolas têm engendrado.

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Afinal, o IDEB considera as avaliações oficiais, mais as taxas de aprovação.

Em nossa experiência docente, temos visto muitos maquiarem as taxas, com aprovações em massa, desconsiderando totalmente o (des)preparo dos alunos.

Temos exemplos? Muitos. Basta dar uma olhada na tabela "Cópia de resultado final_ideb2007_com proficiencia pb saeb" disponível no site do inep (http://portalideb.inep.gov.br/).

Observando com cuidado, vemos um decréscimo do índice na proporção do avanço, da 4ª para a 8ª série do Ensino Fundamental e desta para o 3º ano do Ensino Médio. Quer dizer, quanto mais se avança, menos as maquiagens nas taxas de aprovação conseguem "resolver" o problema das baixas notas atingidas nas avaliações oficiais.

Vamos refletir sobre isso! Voltaremos à discussão!

Por uma nova Educação*

Não importa o quão revolucionários sejam os movimentos: o novo sempre sucumbe diante do velho.
Foi assim no processo judaico-cristão, em que a mensagem de um novo pacto de amor entre Deus e os homens acabou esmagada pelos velhos e mórbidos dogmas de castigo e dor impiedosos; tem sido assim infinitamente na Educação brasileira.
Em um tempo para além da pós-modernidade, de fragilíssimos paradigmas, de inovações humanas e tecnológicas, o que nós, Educadores, temos a oferecer? Ancestrais quadros-negros, ainda que verdes, ainda que brancos? Telas de data-show comportadas como se sofressem algum complexo do mesmo onipresente quadro-negro? Atividades lúdicas para "animar a festa", fingindo ser novidade a prática tão antiga de se buscar a atenção dos alunos...? Falando sério: o que temos realmente a oferecer? Qual o cardápio possível para além desse prato ruim e requentado?
A Educação do Brasil amarga uma das mais vergonhosas posições no ranking internacional. Terão razão nossos detratores? Terão razão quando afirmam sermos um povo atrasado, academicamente desprezíveis, despreparados de todo, mais afeitos e quem sabe melhor contemplados pela misericórdia de algum Deus com corpos bonitos e prontos mais para o esporte ou para o sexo? Terão razão aqueles que nos vêem apenas como o país da Amazônia e do Carnaval?
Os últimos números do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), de 2005, são absolutamente desastrosos em todo o país. Do Sul ao Norte, abrindo uma longa trilha de desconforto, os resultados são assustadores. A Prova Brasil, que compõe esse índice e avalia as habilidades em Língua Portuguesa e Matemática, mostra que nossos alunos lêem muito mal e tem enormes dificuldades nas resoluções de problemas matemáticos.
Há, contudo, notícia pior: o Programa Internacional para Avaliação de Alunos (PISA), que faz pesquisa trienal de conhecimentos e competências de estudantes na faixa de 15 anos de idade, com participação de 57 países e mais de 400.000 alunos, aponta, em sua última edição, de 2006, que o Brasil se apresenta como um dos piores membros do grupo. Vale a pena um olhar mais apurado sobre os números:

Área
Médias dos países da OCDE
Médias do Brasil (convidado)
Leitura
492
393
Matemática
498
370
Ciências
500
390

Ora, se considerarmos que os melhores resultados para as áreas foram, respectivamente, de 556, 549 e 563 pontos, podemos ter uma idéia geral do incômodo que isso representa para todos os brasileiros, em especial para aqueles que como nós atuam na educação. É triste acordar para a realidade de que as nossas crianças têm demonstrado pouca capacidade para ler e interpretar textos, ou para operações básicas de matemática.
Afinal, para que tem servido nossas escolas? Para que horas e horas intermináveis de angústia torturante em aulas improdutivas? Para que tantos recursos financeiros gastos incessantemente? Para que tantos Cursos de Formação, tantas Capacitações, tantos esforços? Afinal, para que professores!?
Temos visto diariamente a velha prática da isenção de culpas; os professores, os educadores teimam que a culpa (se há) está sempre do outro lado do muro. É naquele lugar tão distante, chamado família, que se encontram todos os males; meninos e meninas desajustados, sem objetivos nem limites. É sempre ali, na família, que mora o pecado.
Mas, e a escola? E o professor?
A escola, como um cachorro bobo, vive a perseguir seu próprio rabo e nunca olha para frente, raramente olha para os lados, mas está sempre com um olhar fixo e apaixonado no passado. É comum ouvirmos que no tempo de alguém (e há sempre vários desses "alguéns" na educação), que naquele tempo as crianças aprendiam... e o professor, super-herói, não tinha qualquer dificuldade para ensinar. E isso, complementam, porque a família participava, havia respeito e disciplina etc.
Mas, parafraseando Camões, mudam-se os tempos, mudam-se as famílias... E o tempo, completaria o Camões, agora é outro!
A família tradicional (atenção, educadores!), a família tradicional morreu, foi sepultada, se tirou a certidão de óbito e já vai tempo teve sua missa de 7° dia!
Quem não mudou foi o professor, herói patético da resistência; único lugar onde os paradigmas sobrevivem, saeculum saecularis. O professor que não consegue, coitado, perceber o admirável mundo novo, e insiste em viver em uma dimensão que há tempos foi soterrada pela modernidade.
Mas, não se vem aqui para inquisições... o que se quer saber é quais caminhos, quais trilhas podem nos tirar desse círculo viciado.
Contribuímos por ora com três propostas: primeira, que se faça uma urgente e (atenção!) significativa revisão curricular, com uma rediscussão ampla, que envolva toda a sociedade, dos Parâmetros Curriculares Nacionais; segunda, que se realize um recadastramento nacional dos professores, em todos os níveis e áreas de atuação, passando esses por uma Avaliação de Certificação para Exercício do Magistério, inclusive com permissões especiais para atuação regional e com foco na diversidade; terceira, que haja um concreto e efetivo encontro entre a Educação e a Modernidade, incorporando aquela novos valores e papéis sociais, reconhecendo a práxis vanguardista das novas tecnologias de informação e comunicação.
A revisão curricular se faz necessária; haja vista que em todas as discussões que são feitas na Educação, o foco é sempre outro; ora, a ausência da família; ora, o desajuste social provocado pelas novas mídias; ora, as condições estruturais do ensino; ora, o desânimo do professor frente às condições adversas, incluindo aí os baixos salários... São vários os argumentos, há tiro para todo lado... Mas, quando é mesmo que se vai fazer uma análise séria do currículo? Quando se vai perceber que a sociedade de informação exige um novo enfrentamento...?
Em nossa experiência docente, temos percebido a dificuldade dos alunos com dados e fatos que não lhes dizem absolutamente respeito: geografias descontextualizadas, histórias sem nexo, matemáticas ainda no tempo do ábaco, língua portuguesa repleta de gramaticalidades inúteis...
Isso em um tempo em que frações de segundo têm representado mudanças intensas na forma como os homens agem, pensam, ressignificam valores, constroem novos modos do comunicar...
Com tanta informação disponível para digerir e gerenciar, querer que nossos meninos e meninas decorem fórmulas matemáticas, físicas ou químicas! Pretender que decorem termos e conceitos! Impedi-los (ó, Deus ancestral dos tolos!) que usem calculadoras (observai, educadores, as incongruências)!
Por sua vez, a Avaliação de Certificação para o Exercício do Magistério, como pretendemos, vem a ser um aperfeiçoamento dos instrumentos do SINAES que, ao considerar a questão social, isenta o graduado em péssimos cursos superiores de licenciatura das culpas decorrentes da perversa relação entre ensino ruim e aprendizagem deficiente...
Ocorre que a preocupação social com o profissional mal preparado (quando não despreparado de todo) despreza o resultado final do processo, que no caso das licenciaturas, é a sala de aula e o processo de ensino-aprendizagem de nossas crianças... Quer dizer, há um cuidado social no presente e, por paga, se tem a destruição do futuro!
Professores e professoras sem o domínio mínimo das habilidades e competências necessárias às suas áreas de atuação formam o quadro mais comum. Matemáticos que não sabem calcular... Letrados que não sabem escrever, não gostam de ler e por conseqüência falam apenas o mínimo necessário para a comunicação vulgar... Geógrafos torturados por angústias ideológicas, mas sem qualquer noção de espaço... Historiadores que mal conseguem decorar datas... E por aí segue o longo cordão da incompetência geral...
Daí a proposta da certificação, de se “arrumar a casa”, separando o trigo do joio e impondo limites ao potencial destrutivo, corrosivo, daqueles que ocupam um espaço que não deveriam ocupar.
A fórmula é simples: uma vez feita a avaliação para certificação, se emite um documento que não apenas permite o amplo exercício do magistério aos aprovados, mas ainda funciona como um selo de qualidade, indicando ao mercado que ali está um profissional apto a desempenhar bem suas funções. Vale considerar que a certificação pensada deve valer para todos, incluindo aí a Educação Superior, onde a realidade em nada difere da Educação Básica.
Mas, e os reprovados? Aí, a grita será grande, o trem irá cheio e os direitos adquiridos serão proclamados!
Bem, recém-formados não têm direitos adquiridos e terão que passar então por um bom ciclo de revisões e estudos, reconstruindo sua formação, o que deverá ser bem saudável e a Educação só terá a agradecer. O impacto sobre os cursos péssimos também se fará sentir, já que esses serão naturalmente evitados, forjando ou seu fechamento ou um esforço concreto por sua melhoria.
Por sua vez, os profissionais que já estão no mercado, não podendo ser afastados de suas funções, se tornarão o público-alvo por excelência das Formações Continuadas, que deixarão de se limitar a pequenos encontros onde muito se gasta e pouco se aproveita, para se tornarem cursos de média duração, com enfrentamento real das carências detectadas.
Por fim, sugerimos que haja o encontro entre a Educação e a Modernidade, entendida esta como o espaço das novas tecnologias de informação e comunicação, que parece ser alvo de muita propaganda e pouco cuidado.
De fato, é reconhecido por todos os educadores que o uso massivo de computadores ligados à rede mundial tem resultado em um avassalador fluxo de dados os mais diversificados, com repercussão nos saberes, nas suas trocas e na conseqüente e constante atualização dos mesmos.
O problema acontece quando passamos todos por um intenso dilema shakesperiano, uma crise de identidade digital. Por um lado, nos orgulhamos dos avanços inquestionáveis no uso das tecnologias; por outro, como primatas assustados, atiramos lanças, paus e pedras na direção dos espaços de vivência dessas mesmas tecnologias.
Isso acontece, por exemplo, no Tocantins, quando limitamos, nas secretarias, salas de professores e nas bibliotecas, o uso de programas de comunicação instantânea on-line, tais como o Messenger e o Skype. Primeiro, porque limitamos os espaços de comunicação, que são fundamentos da nova ordem mundial; depois, porque sinalizamos com uma irretorquível censura, a proclamar que, como escrevemos no primeiro parágrafo, o novo sempre há de sucumbir diante do velho. Quer dizer, se nós, heróis patéticos da resistência, não conseguimos lidar com o fato novo, dane-se o fato novo!
E poderíamos nos estender ad infinitum nos exemplos, e poderíamos ainda muito avançar quanto às propostas da mais que necessária rediscussão dos modelos seguidos irrefletidamente pela educação brasileira. Por ora, deixamos os caminhos abertos para novas incursões... Acreditando! Apesar do tom um tanto amargo desse escrito... Acreditando! Porque é possível uma nova educação, que reflita o absoluto, fantástico, mal compreendido e admirável mundo novo!

Professor Sidnei Santana Pereira
Abril de 2008